sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

CHIETA DOIDA: NA BOLA E NA RAÇA




Grêmio Esportivo Jardim Anchieta-Campeão mauaense de 1980


Campeonato mauaense de 1980. Pelé comemora o gol do título do G.E. Jardim Anchieta


          O futebol de várzea (ou amador) sempre foi uma forma de demonstração de força e união de uma comunidade. E não foi diferente com o Grêmio Esportivo Jardim Anchieta, clube fundado em 05 de abril de 1961 e que leva o nome do bairro de onde surgiu e representa desde então. A Sociedade Amigos de Bairro local surgiu em 10 de novembro do mesmo ano.
          Seus fundadores eram todos moradores do Jardim Anchieta, amantes do esporte e que resolveram montar um time para representar o bairro. Rufino Basílio Ferraz, o Pelé, foi jogador do GEJA e agora é o atual presidente da equipe e lembra-se de alguns deles: “tinha o Alfeu, o José Pirola, o Dorli, o Sebastião que tinha o apelido de coringa, o Vermelho. Eles eram muito unidos entre eles”, lembra Pelé. O jornalista e um dos líderes da Associação de moradores do bairro, Osvaldo Donadio, também esteve na fundação.
          Segundo o relato de Pelé, “essa rapaziada mais antiga como o Binho e o Buca sempre me falavam que a primeira reunião do time havia sido realizada na antiga Rua 7, atual Adão Ferreira Batista, na casa do Sr. Paulinho”. Decidiram sobre as cores do uniforme e o nome da equipe, que acabou vermelho, preto e branco em homenagem ao São Paulo FC, já que a maioria dos fundadores era são-paulina. O escudo também foi influenciado pelo time do Morumbi.
          O primeiro presidente do GE Jardim Anchieta foi o Alfeu, seguido pelo Dorli, pelo Sebastião Coringa, pelo Paraíba e por Wilson Carlos de Campos, o Xoxa. Os dois últimos foram vereadores em Mauá. Outros nomes também dirigiram a equipe.
          O apelido “chieta doida” vem desde o final da década de 1970, quando o então Presidente Wilson Carlos de Campos, o Xoxa, incentivava o Luis “pé fino”, fanático torcedor do time, a bater os pés na parede. Emocionado, Luis gritava “chieta doido, chieta doido”, aí pegou. Montou-se até a torcida organizada na época. Rufino Basílio reafirma que “era doido mesmo, porque quando a equipe fazia jogos fora do Jardim Anchieta, enchia-se de 3 a 4 caminhões lotados de torcedores para acompanhar o time”, relata.
          Além do futebol, o Anchieta oferece aulas gratuitas de balé e taekwondo, beneficiando mais de 30 meninas do bairro. Ambas as atividades são realizadas por professores que atuam de maneira voluntária, voltadas para o atendimento da comunidade. Outro destaque é a escola de samba do GEJA, conhecida por sua bateria de respeito.
          A escolinha de futebol é outro orgulho do GEJA, que tem por finalidade a preparação de atletas para servir ao time principal do Anchieta no futuro. “Muitas crianças passam pela escolinha do GEJA, que realiza peneiras para a escolha dos futuros atletas”, confirma Pelé.
          Outro motivo de orgulho do time é a conquista do espaço onde está localizado o campo. Inicialmente o GE Jardim Anchieta mandava seus jogos onde hoje é o campo do Atlético Mineiro, na Vila Assis, chamado de “Industrial”. Depois da construção do campo, o clube foi o segundo campo de Mauá que ganhou alambrado, o primeiro havia sido o campo do Beira-Rio, no Parque São Vicente.

GRÊMIO ESPORTIVO JARDIM ANCHIETA, O CHIETA DOIDA CAMPEÃO
          A grande e apaixonada torcida do Anchieta não comemora título desde 1988, mas a reconstrução do roteiro das conquistas do time merece o relato aqui contido. Campeão mauaense nos anos de 1966, 1970 e 1972, quando não havia na época a chamada lei do acesso e descenso, o esquadrão tricolor do Jardim Anchieta consolidou nesse período sua força como uma das mais importantes equipes amadoras de Mauá.
          A importância dos títulos de 1980 e 1988 ocorre em função do grande time montado pelo GE Jardim Anchieta, que atraia grandes multidões nos campos da várzea mauaense e também porque a partir daquele ano o campeonato amador de Mauá começou a contar com a 1º e 2º divisões.
          Em relação ao campeonato mauaense de 1980, que foi disputado por pontos corridos, o Anchieta chegou à decisão contra o Jardim Maringá precisando de um empate para ser campeão. A derrota daria o título para a equipe do Cerâmica.
          O placar final da partida foi 1x0 para o tricolor, no extinto campo do Cerâmica, gol do camisa 10 Pelé. O tento foi marcado aos 26 minutos do segundo tempo, num lance que teve inicio nos pés do atacante Pascoal, que desceu livre pela direita e cruzou alto. Pelé, de cabeça, mandou a bola no canto direito do goleiro. Neste campeonato o GE Jardim Anchieta só perdeu um jogo, que foi para o Colorado, do Parque das Américas.
          O time entrou em campo com Vladimir, Zuza, Mauricio, Boró e Binho. Bahia, Pelé e Dorival. Gildinho, Pascoal e Cadinho. Compunha ainda o elenco campeão de 1980 os jogadores Luisão, Crau, Jairo, Vandeco, Mingo, Buca e Mazinho. O time era comandado pelo técnico Sidney, que também estava na equipe campeã de 1988.
          O campeonato quase que não foi concluído porque havia uma disputa judicial entre o GE Jardim Anchieta e a equipe da Viação Barão de Mauá, que era acusada de ter em seu time jogadores profissionais, o que era proibido, pelo regulamento. Segundo Rufino Basílio, “o finado Roberto Silva, então presidente da Liga Mauaense de Futebol torcia pela Barão”, rememora. O advogado do GEJA foi o Dr. Waldemar Boyago. Depois foi só festa, com direito à chopada e tudo.
          O time campeão de 1988 tinha entre seus destaques, o Valtinho, autor do histórico gol do Grêmio Mauaense contra o São Paulo FC na inauguração do estádio municipal de Mauá Pedro Benedetti e o então ponta direita Chiquinho, hoje conhecido como Chiquinho do Zaíra, vereador de Mauá. O time tinha Gatuzo, Pico, Valtinho, Buca, Gildinho, Durico, Cadinho e Pelé. Crau, Muriel e Marcelinho.
          Na final, o GE Jardim Anchieta jogou contra a equipe do Blumoon no estádio Pedro Benedetti e venceu por 1x0, gol de Durico. O atual presidente Pelé, que também jogou a final, saiu no intervalo por motivo de contusão. A festa rolou em preto, vermelho e branco pela segunda e última vez.
          O GE Jardim Anchieta também tem dois quadros de veteranos, que disputam os campeonatos locais da categoria. Os jogos dos veteranos são realizados aos sábados.
          Vários atletas que passaram pelo time poderiam ter sido profissionais. “Podemos citar o exemplo do Pascoal, que se tivesse a oportunidade de ter sido profissional poderia ter ido até a seleção brasileira, ele desequilibrava, em campo fazia a diferença. Todos tinham suas qualidades, mas o Pascoal era diferente, tinha qualidade a mais”, exagera Pelé.
          Somam-se a gloriosa história do Anchieta os títulos de vice-campeão em 1973, 1975, 1979, 1994 e 2002, além de diversos troféus em festivais e competições de base e dos veteranos. Atualmente a equipe disputa a 1º divisão do campeonato mauaense de futebol. Endereço: Rua Alfredo de Souza, 140, Jardim Anchieta.

Um comentário: